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Incertezas e juros altos limitam expansão do setor industrial

27 / junho

Segmento responsável por 20% do PIB é o único grande setor que ainda figura abaixo do patamar pré-pandemia

 

Único grande setor ainda abaixo do nível pré-pandemia (-1,5%), a indústria brasileira ainda patina na tentativa de recuperação diante do cenário desafiador marcado pela elevação das taxas de juros, incertezas constantes e a falta de matérias-primas para alguns ramos do segmento.

 

Após abrir 2022 em baixa, a produção da indústria no Brasil engatou sequência de três altas consecutivas apuradas nos meses de fevereiro (+0,7%)março (+0,3%) e abril (+0,1%), desempenho positivo ainda insuficiente para reverter o tombo de 1,9% registrado pelo setor em janeiro.

 

As análises da CNI (Confederação Nacional da Indústria) também indicam para a retomada do setor. Em maio, o índice de produção industrial superou os 50 pontos, linha que separa queda de alta da produção. Já a Utilidade da Capacidade Instalada atingiu 70%, maior percentual para o mês desde 2014.

 

A situação melhor do setor responsável por cerca de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) — soma de todos bens e serviços produzidos no país — é observada ainda nas sondagens da FGV (Fundação Getulio Vargas). Somente em maio, o ICI (Índice de Confiança da Indústria) atingiu o maior patamar desde dezembro e se aproximou novamente do nível neutro de 100 pontos.

 

Para Aloísio Campelo Jr. superintendente de Estatísticas Públicas do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia), avalia que há uma reaproximação do setor no período pré-pandemia e vê a falta de insumos como um dos entraves para retomada efetiva de alguns ramos de atividade.

 

“No início da pandemia, havia mais setores acusando a escassez de matéria-prima como um fator determinante para a limitação da produção e das vendas. Agora está um pouco mais concentrado em alguns segmentos, como o automobilístico, os produtores de máquinas e equipamentos e a cadeia de informática”, afirma Campelo.

 

Também pesa contra o setor o aumento do custo de produção, cuja inflação apurada pelo IPP (Índice de Preços ao Produtor) alcança 18% no acumulado dos 12 meses encerrados em abril. “Já houve um alívio em alguns preços de commodities agrícolas, mas o petróleo está oscilando muito”, diz o superintendente do Ibre.

 

Apesar de melhor, o cenário ainda é marcado por incertezas que obrigam as empresas a se readaptarem para ajustar a produção e não acumular estoques. “Quando você vai hoje a uma montadora, há menos escolhas do que existiam há um ano e meio. Elas te atendem com modelos específicos. Se você quiser um azul, por exemplo, vai ter que esperar um tempão. Não tem mais aquele leque de opções”, pontua Campelo.

 

Juros em alta

 

Outro problema que tem limitado o crescimento da indústria a sequência de 11 altas consecutivas da taxa básica de juros, que passou de 2% para 13,25% no período de um ano e meio. O ciclo de alta, adotado para conter o avanço da inflação, tende a desestimular o consumo e aumenta o custo das companhias.

 

“Os juros elevados dificultam o acesso ao crédito e inibem os investimentos, a inflação em patamares elevados diminui a renda das famílias, o mercado de trabalho ainda não se recuperou e a massa de rendimentos não avança. Assim, há menos recursos para que a demanda doméstica alavanque o consumo e a produção”, diz André Macedo, gerente responsável pela PIM (Pesquisa Industrial Mensal), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

 

Para Douglas Duek, CEO da Quist Investimentos e especialista em reestruturação de empresas, a série de altas da Selic joga as companhias brasileiras “na lona”. A avaliação dele leva em conta que os juros consomem a margem de lucro diante do cenário já adverso, com aumento de preços as empresas dificilmente conseguirão repassar seus custos. “É um momento de apertar os cintos”, afirma ele.

 

“Temos uma grande frenagem da economia nos próximos 12 meses e quem estiver preparado irá atravessar melhor a tempestade. As empresas que já tem um endividamento alto devem buscar soluções”, orienta Duek ao citar a chance de buscar renegociações para reduzir os juros totais e conseguir melhores prazos de pagamento.

 

Campelo, por sua vez, observa que algumas medidas adotadas pelo governo, como a ampliação do Auxílio Brasil, a liberação do saque de até R$ 1.000 do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e o pagamento antecipado do 13º salário a aposentados e pensionistas têm limitado o efeito dos juros mais altos no setor industrial.

 

“Quando nós olhamos para os indicadores, a impressão é de que os juros mais altos já afetam o setor, exatamente nos segmentos de duráveis e bens de capital. […] Os bens duráveis, no qual estão automóveis, a linha branca, eletrodomésticos e produtos de informática, há uma desaceleração forte, porque a compra, na maioria das vezes, é feita a prazo no Brasil”, analisa o pesquisador.

 

Fonte: R7

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