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08 / agosto
Previsões para a inflação no fim de 2022 têm sido reduzidas, e as do crescimento do PIB no ano, elevadas
O Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central semanalmente, tem trazido duas movimentações constantes ao longo das últimas semanas: as previsões dos agentes do mercado financeiro para a inflação em 2022, ouvidos pelo BC para o relatório, aparecem menores a cada semana, enquanto as do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) são revisadas para cima. As razões para os movimentos são claras para analistas do mercado ouvidos pela Jovem Pan: para a inflação, a redução de tributos e um alívio nos preços internacionais de commodities; para o PIB, o efeito carrego de um primeiro trimestre bastante positivo, que pode ser beneficiado também pelos benefícios sociais da “PEC das Bondades”. Na semana entre os dias 25 e 29 de julho, a média das previsões para a inflação de 2022 foi de 7,15%, segundo o Focus (abaixo dos 7,30% da semana anterior). Foi a quinta semana consecutiva em que a previsão foi reduzida. A do PIB passou para 1,97%, após marcar 1,93% na divulgação anterior. A situação deixa os investidores mais animados, mas ainda há cautela devido ao cenário internacional.
A inflação tem dois fatores que causaram o viés de baixa. O primeiro foi o teto de 18% determinado para a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que incide sobre combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transporte público, considerados serviços essenciais. Os combustíveis foram o principal ponto, por terem tido uma subida vertiginosa devido a problemas no fornecimento causados pela guerra da Ucrânia e por terem uma capacidade grande de causar contaminação em outros setores, já que a maior parte dos produtos é transportada por via rodoviária no Brasil. “Acho que foi uma medida adequada, e temos visto outras similares sendo aplicadas em outros países do mundo. Os preços internacionais estavam artificialmente elevados por causa da guerra e da oferta limitada dos países produtores. Os preços altos prejudicam o crescimento econômico do país”, comenta Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho. Por outro lado, Pablo Spyer, economista, sócio da XP e apresentador do Minuto Touro de Ouro na Jovem Pan News avalia ser necessário que o país faça uma reforma fiscal e os governos mantenham o controle de gastos para que a redução seja mais efetiva.
A taxa de juros também afeta a inflação. O BC iniciou um ciclo de altas na taxa Selic, a utilizada pelo governo e que serve para balizar as praticadas no mercado, em março de 2021; desde então, foram 12 aumentos, que levaram os juros de 2% ao ano para o patamar de 13,75% ao ano, conforme determinado na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na última quarta, 3. O Brasil foi um dos primeiros países a iniciar o aperto monetário para conter a inflação após o arrefecimento da pandemia, enquanto Estados Unidos e Europa, que também sofrem com a alta de preços, começaram a subir as taxas apenas em 2022. Agora, a expectativa é de que o Brasil esteja próximo do fim desse ciclo. “O Banco Central se antecipou e, graças a isso, estamos em vias de terminar os aumentos da Selic, enquanto as economias desenvolvidas têm um longo caminho a percorrer. Estamos em posição favorável para enfrentar possíveis choques inflacionários adicionais, que vão depender da precificação de variáveis como as commodities”, avalia Fabricio Henrique Silvestre, economista-chefe do Traders Club – Matrix. Outro ponto que pode levar ao arrefecimento da inflação é o cenário externo: como as altas de juros podem causar recessão econômica, a demanda por commodities tende a diminuir, reduzindo os preços dos produtos primários em contratos futuros e amansando pressões inflacionárias.
Já em relação ao PIB, o possível resultado foi beneficiado por um “efeito carrego” do primeiro trimestre, que teve uma recuperação além do esperado depois da melhora das condições sanitárias pós-Covid. A atividade econômica avançou 1% apenas nos três primeiros meses de 2022, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora os trimestres seguintes sejam mais fracos ou até marquem uma ligeira queda, o resultado deve ser acima do previsto no início do ano — no Focus, divulgado em 3 de janeiro, a estimativa era de 0,36% de avanço. O crescimento corrobora o que foi dito em diversas ocasiões pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o Brasil “iria surpreender” no PIB. Outro motivo são alguns estímulos aprovados pelo governo no primeiro semestre, como o aumento no Auxílio Brasil em janeiro — de R$ 217 para R$ 400 —, o crédito para pequenas e médias empresas, a liberação de FGTS e a antecipação de 13º salário.
O crescimento ainda pode ser melhorado pelo pacote de benefícios sociais aprovado na “PEC das Bondades”. O texto, que teve aprovação do governo, aumentou o valor do programa assistencial Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600; criou um auxílio para taxistas e caminhoneiros, que irão receber R$ 1.000 por mês a partir de julho; dobrou o valor do vale-gás, e agora famílias em situação de vulnerabilidade receberão o valor médio de um botijão de 13 quilos a cada dois meses; estipulou um repasse aos Estados para que diminuam o ICMS sobre o etanol para 12% e outro para garantir a gratuidade no transporte público a idosos. Todos os benefícios são válidos até o fim de 2022. O impacto total estimado é de R$ 41,25 bilhões, que ficam fora do teto de gastos, regra que determina que o limite para as despesas governamentais é o orçamento do ano anterior mais a inflação do período. “Há a expectativa de que o aumento do Auxílio Brasil e outros incentivos do governo ajudem a estimular o consumo e a atividade nos próximos meses. A alta dos juros não chegou a ter muito impacto, o que fez muitos analistas elevarem as projeções de crescimento para a economia neste ano. A PEC deve ajudar a atividade, especialmente o aumento do Auxílio Brasil de R$400 para R$600, que favorece o consumo das pessoas de baixa renda e compensa parte da perda de poder aquisitivo pela alta da inflação”, comenta Spyer.
O mercado de trabalho também teve uma recuperação forte, embora o desemprego siga em um nível elevado. De acordo com o IBGE, a taxa de pessoas sem emprego caiu 1,8% entre abril e junho e foi para 9,3%, com destaque para o setor de serviços. “O emprego está surpreendendo para cima também, acompanhando a recuperação mais rápida da economia e a redução da pandemia. Isso é positivo, pois mais emprego gera mais renda e estimula o consumo. O problema é que mais consumo também coloca mais pressão na inflação e nos juros. O Banco Central deve ficar de olho nessa recuperação e, se sentir pressão nos preços, especialmente de serviços, pode manter os juros altos por mais tempo”, comenta Spyer. Por outro lado, Rostagno também cita a possibilidade do efeito oposto, com juros altos impedindo um aumento maior nas contratações. “Olhando para a frente, como temos um combate à inflação em curso, é natural que o aperto monetário gere uma desaceleração e a capacidade de geração de emprego diminua ao longo do tempo, se estabilizando em torno dos patamares atuais, ou com uma elevação marginal no fim de 2022”, projeta.
CAUTELA
Se o momento traz boas notícias para a economia brasileira, os investidores ainda mantêm a cautela. A possibilidade de uma recessão global leva a uma precaução, e a queda nos preços das commodities ilustram bem a situação: se por um lado diminui a pressão sobre a inflação no Brasil, por outro pode diminuir as exportações de produtos agropecuários e minerais, prejudicando a balança comercial do país. Embora o clima entre os agentes do mercado tenha melhorado após a indicação do BC de que o fim do ciclo de altas de juros está próximo, os cuidados extras ainda marcam presença. “O comunicado do BC após a decisão foi interpretado como um sinal de fim do ciclo de alta e as discussões se voltam para o início do ciclo de baixa e o volume esperado de baixas para 2023. Podemos prever a volatilidade além do usual nos mercados, uma vez que temos a eleição à frente e incertezas relevantes sobre o tamanho do aperto monetário nos Estados Unidos e na Zona do Euro”, diz Silvestre. “Os investidores estão cautelosos porque há muitas incertezas lá fora e aqui. Há o medo de recessão nos Estados Unidos, a guerra na Ucrânia e os problemas geopolíticos entre a China e os americanos. Por aqui, temos a preocupação com o aumento dos gastos públicos, com o teto de gastos e a eleição presidencial, que sempre traz incerteza. Mas, na Bolsa, os investidores estão aproveitando para comprar pechinchas, já que temos grandes empresas líderes de seus mercados e elas são vistas como baratas”, concorda Spyer.
Por outro lado, os dois acreditam que o governo brasileiro está no caminho certo. “As reformas microeconômicas executadas colocam a economia brasileira no caminho certo para gerar um ambiente de negócios melhor e mais atrativo para o investimento, cuja maturação pode ter consequências estruturais importantes em termos de crescimento econômico potencial, redução do custo Brasil e meta de inflação”, cita Silvestre. Spyer, por sua vez, afirma que o governo brasileiro acerta quando diz que vai respeitar o equilíbrio fiscal.
Fonte: Jovem Pan